Felipe Mascari e a expansão do rap no Brasil

Felipe Mascari é jornalista, cofundador e apresentador do RAPTV, veículo independente criado em 2013, que busca levar conteúdos relacionados ao hip-hop e ao rap nacional. É repórter da Rede Brasil Atual.
Como surgiu a vontade de seguir no jornalismo? Desde o início você quis unir isso com a música (no caso com o rap)?
Minha ideia de fazer jornalismo veio já no ensino médio, com a facilidade e o interesse em escrever e praticar a comunicação no geral. Mas o rap que abriu esse leque como profissão, pois ainda jovem, brincava de escrever umas rimas e isso me mostrou que havia capacidade criativa para escrever. Portanto, o rap foi responsável por abrir esse horizonte, logo não tinha como não unir essas duas paixões.
Que diferenças e dificuldades você encontrou trabalhando em um veículo nichado e com um público bem mais específico?
Quando criamos o RAP TV, não havia veículos de audiovisual voltados ao rap como referência no Brasil. Então começar um veículo de mídia sobre essa cultura foi difícil para alcançar público, tornar o YouTube como uma porta de comunicação. Muitos artistas não entendiam a importância disso, nem o público. Portanto, tivemos que construir tudo do zero, seja uma reputação do canal e também a necessidade de comunicação entre artistas e público.
Falar sobre hip-hop é um pouco diferente do que produzir só uma matéria jornalística. Nas entrevistas, você quer extrair o melhor de você e também do MC. A ideia é que ali seja uma conversa rica. Você conversa com o artista, mas com o objetivo de ser um intermediador entre o entrevistado e o público dele. Ou até como uma maneira de apresenta-lo a novas pessoas. Então, é uma responsabilidade diferente.
Além do RAPTV, você também é repórter na Rede Brasil Atual. Como é ao mesmo tempo trabalhar em um portal que de certa forma é mais generalista do que o outro que é especializado em determinado assunto?
A RBA foi responsável por me formar como jornalista de verdade. Foi lá que fiz meu estágio, me formei e apliquei na prática meus conhecimentos. Através desse trabalho, vejo que consegui adquirir muito amadurecimento, evolução profissional e conhecimento sobre os mais determinados assuntos. Então, quando você adquire essa visão mais "360" sobre o mundo, sabendo um pouco de tudo, é possível você aplicar na leitura que faz sobre as obras de artistas e levar para o universo hip-hop.
Como que foram os bastidores dentro do rap até chegar aqui? A sensação de entrevistar e poder conhecer artistas que você tanto admirava no passado e que hoje possui um contato mais direto?
Acho que esse é maior prêmio que a vida poderia me dar. Me envolvi no rap graças às rimas de Emicida, Rashid e tantos outros artistas daquela geração. E logo no começo do canal, já estávamos frente a frente com o Rashid. Isso foi muito maluco pra mim e demorou para cair a ficha. Depois, estar ao lado do Emicida foi outro grande ponto da minha vida. Estive presente no documentário dele. Isso é uma coisa de outro mundo, seria impensável anos atrás.
Então, é uma gratificação enorme ter o reconhecimento e admiração das pessoas que me
fizeram chegar até aqui. É uma sensação de dever cumprido enorme mesmo.
Desde 2013 produzindo conteúdo para a internet sobre um assunto. Durante esses anos você se reinventou para conquistar mais coisas dentro do cenário ou foi apenas acreditando no trabalho duro que chegou nesse resultado?
A gente tenta se reinventar a cada ano. Quando começamos, nós trabalhamos ao máximo o "produto" para que tivesse o reconhecimento necessário. Hoje, buscamos levar conteúdos diferentes, criar coisas novas, diferentes abordagens sobre tais assuntos. A internet é muito dinâmica, tem novas tendências a cada ano, então cabe a nós lermos esses cenários para não deixar o conteúdo ficar obsoleto. É difícil? É. Mas também ajuda a nunca nos acomodarmos com o que fazemos
O que você acredita ter feito de certo para chegar até aqui com toda sua credibilidade no rap nacional. Tendo o reconhecimento de várias pessoas importantes no cenário?
Respeito e seriedade no trabalho, acima de tudo. Nunca busquei criar pautas polêmicas sobre os artistas. Nossas conversas e entrevistas sempre foram elogiadas pelos entrevistados. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi: "melhor entrevista que dei" ou "nossa, ainda bem uma entrevista que não repetiu tais perguntas". Isso é resultado de um trabalho sério de pesquisa e, principalmente, respeito.
Nós também abrimos muitas portas para vários artistas. Então, também há esse sentimento de
gratidão por parte deles. Isso é legal também. Fomos os primeiros a entrevistar Djonga, Matuê,
Bk' (grandes nomes do rap nacional). Então, acreditar no trabalho dessas pessoas, antes
mesmo do super sucesso, é uma maneira de construir a credibilidade também.
Possui novos planos para o RAPTV no futuro ou está satisfeito com todo trabalho já em andamento?
Eu sou satisfeito com o que fizemos, mas queremos bem mais. A pandemia travou muitos
novos projetos que estávamos elaborando e desenhando. Então, o objetivo é colocar esses
novos planos em prática a partir de 2021, como o prêmio presencial e novos quadros, que
estão prontos para sair do papel.
Por Oliver Moraes
